sábado, 26 de julho de 2008

Solidão de um dia de outono II

Lá estava ele, perdido sem saber para onde ir. O dia havia transcorrido sem muitas novidades. Acordar, trabalhar, voltar para casa, dormir. Os dias se tornavam cada vez mais repetitivos e sem graça. A esperança de construir um mundo melhor, fazer algo da sua vida. A cada minuto a esperança que moveu seus dias em outras épocas ia se deixando levar pela necessidade de comer, trabalhar, trabalhar e comer.

Até o momento em que ele vislumbra uma mudança. Uma mudança que parte do interior, mas, causada pela visão, pelo estímulo exterior. Uma garota, linda, como nunca antes tinha visto. Porém, como ela repararia num homem sem graça, que utiliza terno preto, camisa branca, gravata preta, sapatos pretos, meias brancas, cueca branca? Todos os dias. Sem nunca mudar, desafiar as incertezas? Lutar por algo melhor?

Seria agora, teria que ser. Se não fizesse nada ela nunca repararia nele, nunca se preocuparia em observar mais um na multidão de homens-máquinas. Mas o que fazer? Mudar o cabelo? Acabar com o corte de anos, o topete do tamanho padrão, pintar o cabelo? Não. Talvez começar a utilizar ternos de cores diferentes, terno branco? Vermelho? Não, a empresa não gostaria. Um piercing? Não, ele não gosta de agulhas.

Uma tatuagem então? Nem pensar.

O que seria necessário para uma mulher como aquela olhar para ele? Se interessar por ele? Não seria capaz de conversar com ela sem ter um atrativo. Algo que lhe diferencie dos demais.

Porém, em que ele se diferenciava dos demais? Era um homem comum. Problemas comuns, sonhos comuns, desejos comuns. Ele era apenas um ser comum. Ela... ela sim era especial. Seus cabelos brilhavam, seus olhos emanavam uma vida que ele nunca tinha observado, sequer imaginado que podia existir.

Ela sim, era especial, ele, um reles mortal. Não tem jeito, teria que desistir. Deixar que alguém a altura dela se aproximasse, lhe conquistasse. Ele não seria capaz. Tinha problemas demais. Comer, trabalhar, trabalhar, comer.

Agora era tarde, seu momento havia passado, quando escolheu economia, desistiu de sonhar, abandonou o sonho de viajar pelo mundo, só ele e sua mochila. Nada de dormir ao relento, viajar sem rumo. Já tinha perdido sua chance. Agora, não adiantava mais querer conquistar uma pessoa tão especial. O que fez com sua vida?

Nada. Não tinha feito nada de especial, em nenhum momento foi o centro das atenções, quando nasceu, teve um irmão, gêmeo, que dividiu suas atenções, o irmão, logo morreu, e ele se tornou a lembrança da perda. Sentiu isso na pele, os outros irmão, estes sem a mácula da lembrança. Tiveram atenção, festas, presentes. Ele não se lembra de um aniversário em que seus pais se alegraram. Sempre se lembrando do filho perdido. A dor retornava aos seus corações e ele era a marca da tristeza. Seus olhos não vislumbravam a felicidade.

Logo saiu de casa para um internato, assim, seus pais poderiam ser mais felizes, não teriam que lembrar a cada segundo a dor da perda. Ele se sentiu mais sozinho, em meio a tantos outros que solitários. Nenhuma visita, nunca mais viu aqueles que lhe criaram. Os outros logo perceberam, e ele logo se tornou mais e mais só, ninguém queria andar com alguém que nem mesmo os pais queriam.

Depois do internato, foi para uma faculdade. Seu sonho de correr o país com alguns trocados no bolso foi deixado de lado. Queria entrar para a faculdade, se formar, ser famoso, para conseguir finalmente sobrepujar a dor dos seus pais e ver o sorriso nos olhos dos dois ao lhe olharem. Ele iria vencer. Ser famoso, virar motivo de orgulho. Não mais uma lembrança triste.

Contudo, não foi assim. Notas medianas, mais solidão, mais tristeza. Não conseguia se socializar. Não tinha amigos, não ia as festas. A cada dia, mais sozinho ficava, os professores não sabiam quem era. Seus colegas não o conheciam. E passou assim, incógnito, solitário, isolado, fracassado.

Agora, passados 10 anos, estava no mesmo emprego, fazendo a mesma coisa, numa sala cheia de cubículos idênticos, com pessoas iguais realizando as mesmas tarefas, sem conhecer o próximo, sem saber o que é o sol às 16 horas. A vida continua solitária, sem graça, sem diferenças.

Ou melhor, a vida era assim. Agora poderia ao menos olhar para ela. A sua inspiração, o seu drama. Seus dias ficavam mais alegres ao vê-la. Porém, se entristeciam, ao perceber que, ela nunca saberia quem era ele, que a amava. Ela era a síntese da sua vida, sonhos, desejos, emoções guardadas sem nunca compartilhar com alguém. Ela lhe mostrava como era solitário, algo que os dias sem mudanças lhe faziam esquecer.

Agora, novamente as tristezas de não ter feito nada, ter conquistado algo relevante, poder alegrar a vida dos pais, que não vê e não tem notícia há tantos anos. Tudo volta, como um redemoinho de emoções, todas tristes. O que fazer? Lutar, tentar finalmente ser diferente, especial? Mas e o emprego? Será que vale a pena correr o risco de perdê-lo?

As dúvidas que a muito estavam esquecidas ressurgem, porém, com uma intensidade, uma motivação, muito maior. O que fazer então? Dúvida fica martelando sua cabeça. Toda manhã, toda noite, em todos os sonhos. Como poderia chamar a atenção dela?

domingo, 13 de julho de 2008

Tristeza e Amizades

Dias tristes, frios.
Amigos sempre são importantes.
Solidão de uma noite.

Alegrias, tristezas.
Paixões.

A tristeza do fim.
Dias de felicidade.
Noites.

Após muito tempo, alegrias.
Como a muito tempo, tristezas.